03/03/2008

O mestre, Mário Quintana



Adi,

Olha só que lucidez a do Quintana!

Talvez caiba no seu blog...

CLAREIRAS

Se um autor faz você voltar atrás na leitura, seja de um período ou de uma simples frase, não o julgue profundo demais, não fique complexado: o inferior é ele.

A atual crise de expressão, que tanto vem alarmando a velha-guarda que morre mas não se entrega, não deve ser propriamente de expressão, mas de pensamento. Como é que pode escrever certo quem não sabe ao certo o que procura dizer?

Em meio à intrincada selva selvaggia de nossa literatura encontram-se às vezes, no entanto, repousantes clareiras. E clareira pertence à mesma família etimológica de clareza... Que o leitor me desculpe umas considerações tão óbvias. É que eu desejava agradecer, o quanto antes, o alerta repouso que me proporcionaram três livros que li na última semana: Rio 1900 de Brito Broca, Fronteira, de Moysés Vellinho e Alguns Estudos, de Carlos Dante de Moraes.

Porque, ao ler alguém que consegue expressar-se com toda a limpidez, nem sentimos que estamos lendo um livro: é como se o estivéssemos pensando.

E, como também estive a folhear o velho Pascall, na edição Globo, encontrei providencialmente em meu apoio estas palavras, à pág. 23 dos Pensamentos:

"Quando deparamos com o estilo natural, ficamos pasmados e encantados, como se esperássemos ver um autor e encontrássemos um homem".

Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo

02/03/2008

O Nome da Rosa...







Sempre, sempre que chego na Universidade me indigno com aqueles muros cinzas enormes a subir o morro e dar a volta na Unimontes.




Por incrível que pareça a Unimontes é cercada pelos bairros:





  • Vila Mauricéia: Endereço oficial da Universidade que consta nas agências dos correios. Bairro simples conhecido como morro. Fica entre bairros nobres à direita, e à esquerda. Mas ali não há o olhar das autoridades. Não tem água corrente e a energia elétrica é levada até as humildes casas através de gambiarras.


  • Jardim Panorama: Bairro tido como nobre, com grandes casas. As ruas em ladeiras, mas não é morro!É o pé, “muito chic”, do morro.


  • Todos os Santos: Bairro nobre, que deveria ter características universitárias mas tanto os aluguéis, quanto os condomínios e a alimentação são caríssimos.


  • Vila Oliveira: Este é "O Morro". Altas taxas de criminalidade, violência e miséria.


Todos os dias olho aquele muro a dizer às pessoas mais simples, que moram ali do lado mas não tiveram oportunidade de uma melhor educação: "Não entre! Aqui você não é bem-vindo. Fui colocado aqui para que vocês parassem de roubar o que não os pertence.”


Isso cresce em mim uma revolta!



Tinha apenas 12 anos quando li o livro de Humberto Eco que leva o título deste post.
O nome da minha Rosa é Unimontes. A 2ª melhor universidade do país, e a 1ª universidade estadual.



Seus muros, assim como o labirinto da biblioteca da Abadia de Humberto Eco, guardam a jóia mais preciosa: o conhecimento.
E esse não está à disposição de todos. É caríssimo!!! Quem o tem possui poder.



Poder? Mas que poder?
Não digo o poder do dinheiro que corrompe. Digo o poder de fazer algo para mudar e melhorar a vida de seus vizinhos. A minha Rosa ainda não tirou a viseira do burro de carga. Ela ainda não olha para os lados.



E nós que lá estamos? Qual é nossa obrigação?
Se conseguimos a duras penas lá chegar devemos espalhar, multiplicar o conhecimento que conseguimos àqueles que lá não podem estar conosco.
Uma universidade que vive do dinheiro de contribuintes, contribui pouco para a comunidade. Até aquela que está em torno
de si, e que é tão necessitada de atenção, compreensão, perspectivas e etc.



A minha Rosa, tem carência de ensino, pesquisa e extensão. Mas ainda assim, se quisesse doar o pouco que tem, seria muito.
Aqueles que moram ao seu entorno, não se reconhecem nela. Assim ela sofre com vandalismo. Quando entro tenho a impressão que ela se fecha em botão e deixa a disposição seus espinhos escrito: “favor não incomodar”.



E você?Qual é o nome da sua Rosa?