30/01/2008

"O desenho não é a forma, é a maneira de ver a forma." Edgar Degas

Um certo dia vi um amigo a desenhar o rosto de uma colega da fotografia. Todos ao seu redor ficaram extasiados... "Nossa , como você desenha bem!"
Calada, fiquei pensando o porque de tanto espanto...eu também conseguia fazer aquilo.
Desenhar o rosto de minha mãe enquanto ela cochilava a tarde era um hábito.
Aí veio a surpresa: Não era eu quem sabia desenhar, as outras pessoas é que não sabiam.

Mas como?
Desenhamos desde a Pré- história, desde criança.

Começamos com linhas tortas, depois estas se cruzam e passam a fazer sentido aos olhos de alguém que observa...
O famoso boneco de pauzinhos vai ficando flexível e gordinho...
A casinha de sapé, adquire portas e janelas, estas terão cortinas, e os detalhes vão se formando...
Disse minha prima de 4 anos enquanto desenhava: " Ops! O miolo da florzinha tá grande e as pétalas estão pequenas...ficou feia..."
Eu que observo penso: "Parece um girassol..."
O ponto de Referência, a Divina Proporção, a Série de Fibonacci...
Como vou explicar àquela garotinha decepcionada que ela acaba de perceber o que é tão difícil explicar a um adulto?
Degas tinha toda razão!

MELADO DE LUZ E COR



Bienal

Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio

Faço um quadro com moléculas de hidrogênio

Fios de pentelho de um velho armênio

Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta


Teu conceito parece, à primeira vista,

Um barrococó figurativo neo-expressionista

Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista

Ao cabo da revalorização da natureza morta


Minha mãe certa vez disse-me um dia,

Vendo minha obra exposta na galeria,

"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da gia

E muito mais feio que um hipopótamo insone

"Pra entender um trabalho tão moderno

É preciso ler o segundo caderno,

Calcular o produto bruto interno,

Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,

Rodopiando na fúria do ciclone,

Reinvento o céu e o inferno


Minha mãe não entendeu o subtexto

Da arte desmaterializada no presente contexto

Reciclando o lixo lá do cesto

Chego a um resultado estético bacana


Com a graça de Deus e Basquiá

Nova York, me espere que eu vou já

Picharei com dendê de vatapá

Uma psicodélica baiana


Misturarei anáguas de viúva

Com tampinhas de pepsi e fanta uva

Um penico com água da última chuva,

Ampolas de injeção de penicilina


Desmaterializando a matéria

Com a arte pulsando na artéria

Boto fogo no gelo da Sibéria

Faço até cair neve em Teresina

Com o clarão do raio da siribrina


Desintegro o poder da bactéria

Zeca Baleiro -