08/02/2008

6ª Bienal de Arte, Ciência e Cultura da UNE - A Formação do Povo Brasileiro.


A 6ª Bienal de Arte, Ciência e Cultura da UNE dá início à sua fascinante viagem pelos meandros da formação do povo brasileiro. Vai descobrir o Brasil, desvendar sua formação, desesconder de suas profundezas toda a sua caboclice, sua mameluquice, sua mulatice... Hélio Oiticica descobriu o Brasil. Sacou, depois de se extasiar com a marginália, que a riqueza da cultura do país não estava à margem, estava subterrânea! Era preciso desenterrar o Brasil e não descobrir.
.Misturas de formas e cores, de sons, de jeitos, de expressões... Encontramos no Barroco sua primeira audácia: a pérola torta e pitoresca que, aos olhos do belo clássico, não passa de puro mau gosto. Mas a brasileirice, surgindo ali debochada e exagerada, zomba do clássico ao mesmo tempo em que o cultiva, blasfema heresias e pede perdão aos céus. As bocas do inferno lado a lado das portas dos céus inventam um jeito de ser, mistura as dualidades, ridiculariza o racionalismo que compartimenta o mundo.
.Os ibéricos, europeus tortos, argonautas do Atlântico que chegaram ao sul do mundo em suas jangadas de pedra. A mãe amorosa que Saramago disse ver atordoada com a sorte de seu filho do além-Pireneus jogado no mar, Europa soberba que, na verdade, olhava o filho ibérico como quem espera o filho pródigo. Mas, tão malandro, esse nunca mais voltou. Não o mesmo. Foi gerar em terras subtropicais algo fora da imaginação da mãe amorosa. Algo mais volúvel e desregrado e suas frouxas instituições. Suas sinhás fogosas transitando pelos bugres, seus senhores desejando as negras, o batuque louvando os santos católicos. Caleidoscópio é metáfora pequena.
.Neste turbilhão, as três matrizes originais – a negra, a indígena e a ibérica – vão gerando outras submatrizes, misturas onde não se sabe mais onde começa uma e termina a outra. Mas, longe da homogeneidade almejada pelo projeto totalizante, o que se vê é a interação em disputa como qualquer outra interação. Estabelecida em uma relação entre dominadores e dominados, ainda que não seja uma relação engessada, já que há subversões e em determinados momentos os papéis se invertem, a democracia harmônica é uma ilusão perpetuada por quem deseja esconder a importância dos de baixo.
.Nos dias de hoje, desejamos a diversidade. Consideramos-nos iguais porque somos diferentes. A harmonia não é mais sinônimo de pasteurização. Tal qual na harmonia musical, buscamos juntar coisas diferentes e delas extrair um equilíbrio e não uma uniformidade. Como nos vitrais, a cultura brasileira é formada por diversas formas, cores e texturas que, somente em conjunto, fazem sentido.
.Aprovado na segunda reunião de diretoria da UNE desta gestão, a primeira do ano, realizada nos dias 24 e 25 de janeiro na cidade de São Paulo, o tema da sexta edição do evento está lançado: A formação do povo brasileiro. E estão todos convidados a, com este espírito, embarcar nesta viagem dez anos após a primeira edição do evento.
Imagem : Luis Fernando Guimarães dança com o Parangolé de Hélio Oiticica
Texto -Aline Portilho, CUCA –RJ, produtora cultural, e colunista

03/02/2008

HIP HOP A LÁPIS - Mano Oxi: O dia que o hip-hop virou lei



Porto Alegre 26 de dezembro de 2007. É com enorme satisfação que escrevo esta carta, com o objetivo de divulgar a todos que possa interessar, que o dia de hoje certamente será lembrado como ''O dia que o hip-hop virou lei em Porto Alegre!''


E foi isso mesmo que aconteceu, eu vi com os meus próprios olhos aliás eu, juntamente com outros camaradas do movimento hip hop ajudamos a escrever linha por linha, o Projeto de Lei que foi apresentado para votação na ''ordem do dia'' da Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre.

Esta conquista, faz a gente ter certeza que é possível sim continuar lutando pela causa que acreditamos, faz com que tenhamos cada vez mais força para passar por qualquer obstáculo em nosso caminho, afinal já estamos acostumados com as dificuldades diárias. A frase '' Tô na correria'' já faz parte do nosso vocabulário, assim... não desistimos nunca.

O ano de 2007 foi um ano diferente de todos os outros aqui em nossa cidade, em nosso Estado. Estivemos na linha de frente de vários acontecimentos e por incrível que pareça, houve momentos de muita unidade, de muita união, talvez pelo fato de estarmos passando por um fase de transformação aqui no Sul. Estivemos em várias cidades no interior do estado e o que sentimos, foi a vontade de muitos manos e muitas minas, de passar uma borracha nas discórdias do passado e ajudar a salvar a cultura hip-hop.

Durante muito tempo fiquei esperando por alguém que liderasse o movimento e mobilizasse a gente para podermos pressionar as autoridades locais, mas essas lideranças não apareceram. Assim como eu, muitos outros manos também ficaram esperando, quando percebemos que a ajuda não viria, tivemos que assumir este papel, e passar a comandar as ações em nome do que sempre almejamos: ''Colocar o hip-hop em um patamar de respeito e de credibilidade''

Eu me perguntava: se nossa cultura é uma forma de transformação social e de protagonismo juvenil legítima, por quê a prefeitura e o governo do estado não nos respeitavam, por quê? Por quê apenas nós, que somos integrantes desta cultura acreditávamos que ela deveria ter um lugar de destaque dentro de nossa sociedade, por ser uma ferramenta de inclusão e de visibilidade de jovens que cresceram em situação de extrema vulnerabilidade social?

Tenho certeza hoje, mais do que nunca que muitos outros irmãos, também se fizeram estas mesmas perguntas. De tanto pensarmos acabamos encontrando o caminho e como sempre, de maneira auto didata, não demorou muito para passarmos a bolar um plano! Foi aí que houve uma única fagulha e deu no que deu, se nós temos a Semana da Consciência Negra instituída como Lei, por que não construir uma lei que garantisse também a Semana Municipal do Hip-Hop?

A partir daí, foi um mano ligando para o outro, todos sedentos por este mesmo objetivo, criar uma lei que estivesse no calendário anual da cidade de Porto Alegre, que determinasse a Semana Municipal do Hip hop e, quando percebemos, haavíamos contaminado todos os vereadores da Câmara Municipal e de forma unânime todos votaram e aprovaram pela primeira vez no Rio Grande do Sul, uma lei que garantirá uma vez por ano a começar pelo ano de 2008, no mês de maio ''A SEMANA DO HIP-HOP EM PORTO ALEGRE''.

Essa vitoria não é minha e muito menos dos demais que protagonizaram este feito e sim, é uma vitoria de todos que fazem parte do hip hop do Brasil e do mundo. Não posso deixar de agradecer ao Vereador Sebastião Mello, a Vereadora Maristela Maffei e a todos os demais vereadores da Câmara Municipal de Porto Alegre, aos Rappers PX, TIRIRICA, WHITE JAY, Guibbis e a todos que acreditaram que um dia O HIP HOP VIRARIA LEI AQUI EM PORTO ALEGRE.


É nóis !!! Mano Oxi - do grupo DNA MC´S, vice-presidente da Nação Hip-Hop Brasil.