03/07/2009

"A Frô do Maracujá”




Preguntei a um sertanejo
Móde uma prosa puxá
Pruquê rezão nasce rôxa
A frô do maracujá?
Antonce o Dotô nun sabe?
Nunca lhe insináro não?
Essa istóra é cunhicida
Pro dimais, no meu sertão.
Apois antão, eu lhi conto
A istóra qui ouvi contá
Pruquê rezão nasci rôxa
A frô do maracujá
Maracujá já foi branco
Eu posso inté lhi jurá
Mais branco qui caridádi
Mais branco do que o luá
Quando a frô brotava nêle
Lá prus cunfim do sertão
Maracujá paricia
Um ninho de argudão
Mai um dia, há muito tempo
Num mêis que inté num mi lembro
Si era maio, si era junho,
Si era agosto ou setembro
Nosso Sinhô Jesus Cristo
Foi condenado a morrê
Numa cruis, crucificado
Longe daqui cumo o quê
Pregáro Cristo a martelo
E ao vê tamanha crueza
A Natureza intêrinha
Pôs-se a chorá di tristeza
Antonce, chorava us campo
Chorava as fôia, as ribêra
Sabiá tomém chorava
Nos gáio da laranjêra
Chorava os boi no currá
Ôtos, na manga, chorava
Pois nessa hora tão triste
A tristeza campiava
E tinha, junto da cruis
Carregadin de fulô
Um pé de maracujá
Aos pé de Nosso Sinhô
I o sangue de Jesus
Sangui pisado de dô
Nus pé du maracujá
Tingia todas as fulô.
E as fulô, coitadinha
Sintino a mêrma dô,
Ia ficano ruxinha,
Cumo sangui do Sinhô.
Apois foi essa, dotô
A istóra que eu vi contá
A rezão pruque nasce rôxa
A frô do maracujá.
Catulo da Paixão Cearense